Sono desregulado e risco à saúde: jet lag social atinge 83% dos jovens no Brasil, aponta estudo

  • 06/04/2025
(Foto: Reprodução)
Distúrbio do sono pode prejudicar o coração, a mente e o desempenho escolar. Pesquisa de doutoranda da UFRGS traz dados sobre os impactos do fenômeno no país. Exposição a telas Flávio Dutra/ Jornal da Universidade da UFRGS Por trás dos olhos cansados e da dificuldade de concentração de muitos adolescentes brasileiros, pode estar um fenômeno pouco conhecido, mas amplamente difundido: o jet lag social. 📲 Acesse o canal do g1 RS no WhatsApp O nome remete à sensação de atravessar fusos horários e desregular o sono, mas, nesse caso, acontece dentro da rotina e pode ter efeitos graves na saúde dos jovens. O alerta é da doutoranda Nina Nayara Martins, do Programa de Pós-graduação em Cardiologia e Ciências Cardiovasculares da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). A pesquisadora analisou dados de mais de 64 mil adolescentes brasileiros e identificou que 83,6% apresentam jet lag social. Os resultados foram publicados no periódico Sleep Health. "Há um desequilíbrio do ritmo biológico natural devido, principalmente, a compromissos sociais, como escola ou trabalho", observa Nina. Desequilíbrio do relógio biológico O jet lag social é um distúrbio crônico do sono, causado pelo descompasso entre o relógio biológico e os compromissos sociais — como o horário escolar. Não se trata de insônia, ou seja, não tem relação a não conseguir dormir: o jovem sente sono, mas no horário "errado", e tenta recuperar o descanso perdido quando pode, principalmente aos sábados e domingos. "Há uma compensação pelo 'sono perdido', durante os finais de semana, fazendo com que os adolescentes apresentem um horário mais tarde para acordar e levantar", explica. De acordo com Nina, o problema é intensificado pelo sistema educacional brasileiro, onde a maioria dos alunos precisa levantar cedo para assistir às aulas da manhã, sem considerar o ritmo biológico de muitos jovens. "A literatura afirma que um atraso de meia hora já melhoraria a qualidade de sono dos adolescentes. Em outros países, o horário escolar começa mais tarde, sem prejuízo aos alunos", diz a doutoranda. Se forçarmos a concentração quando estivermos cansados, nosso cérebro pode ficar preso em uma 'marcha mais alta', o que dificulta o sono. Getty Images via BBC Quem mais sofre Os dados do estudo apontam que meninas, adolescentes mais velhos e alunos de escolas particulares estão entre os mais afetados. No grupo de 16 a 17 anos, 88,4% dos jovens sofrem com o jet lag social. "Adolescentes mais velhos tem mais liberdade para postergar o horário de dormir, então ficam mais expostos e com propensão ao desbalanço no ciclo circadiano devido aos compromissos sociais, sendo a escola o principal", observa. Já entre as meninas, a taxa é de 86,1%. "Nossa hipótese principal para essa questão [de gênero] é que alguns estudos sugerem que as meninas apresentam maior propensão aos efeitos do desequilíbrio do funcionamento do corpo quando expostas aos jet lag social, principalmente relacionadas as mudanças hormonais e fisiológicas devido ao amadurecimento", diz a pesquisadora. Outro achado é que os alunos de escolas particulares são os que mais apresentam o distúrbio: 94,4%. "O tipo de escola em que esses alunos estão matriculados são reflexo do contexto socioeconômico do adolescente. Em nossos resultados, maior nível socioeconômico, maior renda, apresentaram maior prevalência de jet lag social", comenta. O estudo ainda evidenciou que o uso excessivo de telas é um dos principais fatores de risco. Os jovens que passam mais de seis horas diárias em frente a dispositivos eletrônicos apresentam maior incidência do problema, principalmente pelo impacto da luz azul na regulação do ciclo do sono. Inclusive, Nina comenta sobre o recente assunto de proibição do uso de celulares nas escolas. De acordo com ela, a ação por si só pode não ser suficiente para enfrentar o jet lag social, já que os adolescentes tendem a compensar a restrição utilizando os aparelhos por mais tempo fora da escola. Por isso, ela propõe que sejam adotadas políticas voltadas à educação para o uso mais consciente e equilibrado da tecnologia. "Penso que para o jet lag social talvez não seja a melhor escolha. Se você cortar um horário de 4 horas que o adolescente poderia utilizar aquele telefone, ele vai querer fazer uma compensação, e essa compensação é que me preocupa", reforça. Dificuldade para dormir (imagem ilustrativa). Getty Images via BBC Riscos à saúde Mais do que um incômodo temporário, o jet lag social pode ter consequências graves para a saúde. Segundo Nina, há uma relação entre o distúrbio e problemas cardiovasculares, como obesidade e alterações metabólicas. Além disso, o sono desregulado afeta diretamente o funcionamento do cérebro. Entre os impactos observados estão: queda na atenção; aumento da sonolência diurna; estresse; maior propensão a transtornos mentais - como ansiedade e depressão. A consequência disso, segundo os resultados apontados na pesquisa, é a piora no desempenho escolar e no bem-estar emocional. Políticas públicas Para Nina, o país ainda está despreparado para lidar com os efeitos do jet lag social — e as consequências disso podem ser sentidas tanto na saúde da população quanto na economia. “A gente não vai ter mão de obra e não vai ter capital também. Se continuarem assim, vai ser um número muito grande de pessoas que vão sofrer impactos do jet lag, seja da parte psicológica ou da parte cognitiva", observa. Além disso, a pesquisadora acredita que pode ter um impacto no governo, que vai ter que separar recursos para poder atender a demanda das pessoas incapacitadas por conta do distúrbio. Caminhos possíveis Nina defende medidas estruturais e educativas, como: Postergar o início das aulas para respeitar o ritmo biológico dos adolescentes; Criar campanhas sobre a importância do sono; Incentivar a prática de atividades físicas em horários adequados; Monitorar o uso de telas e estimular hábitos saudáveis dentro de casa. A pesquisadora ainda destaca que a transformação nos hábitos deve ter início no ambiente familiar. Para Nina, o convívio familiar do adolescente tende a fortalecer e diminuir períodos isolados, o que pode, consequentemente, evitar longos períodos de exposição aos fatores de risco. “Os adolescentes reproduzem os hábitos da família. Então, se os pais têm um sono desregulado e alimentação inadequada, é provável que os filhos sigam esse padrão”, explica. VÍDEOS: Tudo sobre o RS

FONTE: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2025/04/06/sono-desregulado-e-risco-a-saude-jet-lag-social-atinge-83percent-dos-jovens-no-brasil-aponta-estudo.ghtml


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